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Os sete dias que passei em Havana estão longe de ser o tempo ideal para explorar tudo que a cidade oferece ou para satisfazer minha curiosidade sobre suas peculiaridades. No âmbito cultural, tive oportunidade de realizar alguns programas muito prazerosos, os quais recomendo aos futuros visitantes. 

A convite do senhor cubano que me guiou pelo centro em meu primeiro dia em Havana, fui ao tradicional Cine Yara, em El Vedado, na sessão das 18 horas de um domingo. Para minha alegria, a sessão estava lotada de famílias habaneras. Adultos e crianças estavam lá para assistir ao filme nacional "La Hoja de la Caleta" (de modesta produção; não muito elogiado pela crítica local; o título faz referência a uma árvore muito resistente do litoral cubano). O filme trata de um tema bastante atual no país: o dilema familiar de um jovem casal que tem um filho na puberdade; a mãe emigrou para os Estados Unidos e deseja levar o filho consigo; o pai é um pescador simples numa pequena cidade ao sul de Cuba e lá cria o menino.  A escolha final de seu destino fica a cargo da criança.

O Cine Yara foi inaugurado em 1968, tendo uma gigantesca sala de exibição com 320 lugares, ao estilo cinema de rua do centro de São Paulo nos anos 1960. A cinematografia é uma arte incentivada pelas instituições estatais de cultura em Cuba desde a Revolução de 1959. O ingresso deste cinema para cubanos tem o custo equivalente a R$8,00. 

Fiquei muito satisfeita em fazer um programa cultural juntamente com dezenas de famílias habaneras.

Às vesperas de partir para a XXV Brigada Sul-Americana, de Solidariedade a Cuba, tive a sorte de apreciar um espetáculo erudito no Gran Teatro de La Habana Alicia Alonso. Foi a montagem de "Don Quijote" dançado pelo internacionalmente reconhecido Ballet Nacional de Cuba e musicado pela Orquestra Sinfônica del Gran Teatro de La Habana. Já me animei quando fui comprar o ingresso - dois dias antes do evento - e encontrei uma longa fila de cubanos interessados no espetáculo.

Toda a simplicidade que eu estava observando na cidade simplesmente desapareceu diante da exuberância artística do espetáculo. Cenários, figurinos, coreografias, músicas, bailarinos, técnica, precisão, beleza: tudo no Ballet Nacional de Cuba me pareceu exuberante! Foram duas horas de intenso deleite assistir aqueles jovens bailarinos e bailarinas - todos com idade entre 19 e 21 anos (conforme informado no programa oficial) - deslizando pelo palco e encantando a plateia com uma perfeição de movimentos arrebatadora. Eu me senti muito privilegiada por desfrutar daquele espetáculo.

Alicia Alonso

Nascida em 1920 em Havana, Alicia Alonso é a prima ballerina assoluta do Ballet Nacional de Cuba, ambos mundialmente reconhecidos por sua excelência artística.

Começou sua formação como bailarina clássica aos 11 anos de idade, na Escola de Ballet da Sociedade Pro-Arte Musical, em Havana, e apresentava-se ainda com o sobrenome do pai, Martinez. Aos 15 anos já estava estudando na School of American Ballet, em New York, onde se casou com seu primeiro marido, o cubano Fernando Alonso, daí em diante, adotou seu sobrenome como nome artístico também. Estreou como bailarina profissional aos 18 anos nas comédias musicais Great Lady e Stars in your eyes, ambas na Broadway. Aos 19 anos, perdeu parcialmente a visão, mas continuou desenvolvendo-se como bailarina guiando-se pelas fortes luzes dos refletores no palcos. Incorporou-se ao Ballet Theatre of New York, em 1940, ano em que foi fundado.

Em 1948, estava de volta a Havana juntamente com Fernando, fundando o Ballet Alicia Alonso. Em 1950 já era um expoente do ballet clássico e sua companhia de dança ascendeu à Academia Nacional de Ballet Alicia Alonso, que se tornou Ballet Nacional de Cuba em 1959, quando a Revolução Cubana deu todo apoio que a companhia precisava para desenvolver-se, evoluindo para uma verdadeira escola cubana de ballet clássico, com suas características e peculiaridades reconhecidas mundialmente.

Dançou todos os grandes espetáculos clássicos em palcos de Cuba, União Soviética, França, Espanha, Itália, Inglaterra, Estados Unidos, diversos países da América Central, da América do Sul e até no Brasil. Sua biografia lista 176 prêmios internacionais e 122 prêmios nacionais no decorrer de seus 80 anos de carreira como bailarina e coreógrafa. 

Até os 98 anos de idade, Alicia esteve ativa e participou dos espetáculos do Ballet Nacional de Cuba como sua diretora artística, com a autoridade de maior artista do ballet clássico do país e uma das maiores do mundo. Em 2015, passou a nomear o Gran Teatro de La Habana, pela importância de seu trabalho para o teatro. Faleceu em 17 de outubro de 2019, em Havana, entristecendo todo o país.

Trecho de "Quebra Nozes", com Alicia Alonso e Jorge Esquivel. Havana, 1982.

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