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Ao conhecer a história de Cuba e da Revolução de 1959, a primeira grande surpresa que nos impacta é tomar conhecimento que ela não foi socialista, muito menos comunista, em sua origem. 

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Embora o jovem Fidel Castro tenha sido um leitor de Karl Marx, tornara-se líder estudantil na Universidade de La Habana atuando na FEU (Federação Estudantil Universitária) e participando da Juventude Ortodoxa, do Partido do Povo Cubano - Ortodoxo, o qual defendia o nacionalismo, a independência econômica, a eliminação do gangsterismo na política e no movimento estudantil, a moralidade administrativa e o equilíbrio das classes sociais. O partido concentrava apoio da pequena burguesia com inclinação à esquerda, mas não comunista.

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Na ocasião do Assalto ao Quartel Moncada, em 26 de julho de 1953, os rebeldes se identificavam como a Geração do Centenário de José Martí, e através do Manifesto de Moncada declarava sua orientação ideológica martiana, a qual - já em 1880 - conclamava a luta pela libertação de Cuba e emancipação da América Latina, rompendo com os padrões do individualismo moderno e opondo-se ao imperialismo estadunidense, cujo desenvolvimento se dava às custas da subordinação econômica e política dos países da América Central e do Sul.

Mais tarde, quando assumiu sua própria defesa no julgamento a que foi submetido pelo Assalto ao Moncada, Fidel listou os profundos problemas sociais que assolavam Cuba, os quais seriam objeto das transformações que a Revolução se propunha realizar: "o problema da terra, o problema da industrialização, o problema da moradia, o problema do desemprego, o problema da educação e o problema da saúde do povo ... junto com a conquista das liberdades públicas e a democracia política", esta última reivindicação faz referência ao combate à ditadura de Fulgêncio Batista. O Manifesto também mencionava as forças sociais que preconizariam essa luta nacional de base popular incluindo "operários, camponeses, profissionais, pequenos comerciantes, jóvens que não encontram emprego, enfim, os setores populares capazes de lutar com toda coragem".

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Conforme explica o Prof. Dr. Arnaldo Silva Leon no capítulo "La Revolucion en el poder" do livro "Cuba y su Historia" (Havana, 2004, Editora Félix Varela): "sem o socialismo não teria sido possível, no caso cubano, a conquista da plena independência nacional". E mais adiante: "José Martí disse: na natureza como nos povoados, todo o necessário se cria em sua hora oportuna, da mesma coisa a que ele se opõe e contradiz. Neste sentido é legítimo afirmar que a necessidade do socialismo em Cuba surgiu daquilo que a opôs e contradisse: o imperialismo norte-americano". Por fim: "uma totalidade de fatores fizeram possível o necessário: a correlação de forças existentes ao final da década de 1950, a política agressiva dos Estados Unidos contra Cuba, a atitude solidária e inteligente da União Soviética, a liderança e sua ideologia revolucionária".

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A explicação sociológica do professor remete diretamente aos agradecimentos irônicos presentes na instalação artística Rincon de Los Cretinos, no Museu da Revolução, que também expressam os empurrões e reforços que os governos dos Estados Unidos deram à Revolução Cubana, a qual se fortaleceu cada vez que foi ameaçada pelo imperialismo.


Agora o choque maior de realidade: saiba que embora os líderes do Movimento Revolucionário 26 de julho que protagonizaram a Guerra de Libertação Nacional de Cuba (de 1953 a 1959) tenham sido Fidel Castro, Raul Castro, Ernesto Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Juan Almeida, não foi nenhum deles quem assumiu o poder imediatamente após a queda de Fulgêncio Batista. Foi um governo provisório de diferentes tendências ideológicas que começou a governar o país em 01 de janeiro de 1959.

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Assim, foi designado como Presidente da República o advogado anti-comunista Manuel Urrutia Lleó, que se manteve no cargo por seis meses, período em que - pouco a pouco - a Revolução foi se tornando mais radical. Opositor à Fulgêncio Batista, o também advogado e professor José Miró Cardona foi o Primeiro Ministro do governo provisório durante o primeiro mês da Revolução, mais tarde tornando-se um assumido contra-revolucionário. Foi devido à renúncia de Cardona que Fidel Castro tornou-se Primeiro Ministro e passou a liderar o governo, debilitando as frentes conservadora e reformista que uniram-se temporariamente aos revolucionários diante da queda de Batista.

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O caráter socialista da Revolução Cubana foi declarado em abril de 1961 no enterro das vítimas da invasão e bombardeio de Playa Giron, na Baía dos Porcos, organizada pela CIA e financiada pelo governo estadunidense. Nesta ocasião, o primeiro-ministro do governo revolucionário, Fidel Castro, convocou o povo a defender o processo democrático revolucionário cubano, ao mesmo tempo que anunciava ao mundo o caráter socialista da Revolução ao expressar aquilo que o professor Leon explica em seu livro. Disse Fidel:

 

"É isso que eles não podem nos perdoar, que fizemos uma revolução socialista bem no nariz dos Estados Unidos. Companheiros operários e camponeses, esta é a Revolução socialista e democrática dos humildes, com os humildes e para os humildes. E por esta Revolução dos humildes, pelos humildes e para os humildes estamos dispostos a dar a vida. O socialismo cubano se desenvolveu como resultado natural das lutas do povo por sua independência e soberania. Suas premissas se vinculam à luta e ao pensamento de muitos homens que desde o século XIX proclamavam liberdade e justiça social para os cubanos".

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Nesta última frase do discurso fidelista, fica claro que a ideologia martiana orientava a Revolução.

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