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Mural artístico com citação do líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro, ainda hoje mentor intelectual dos jovens cubanos 

IPVCE é a sigla em espanhol para Instituto Pré-universitário Vocacional de Ciências Exatas, popularmente conhecido como "vocacional". 

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Em 1o. de fevereiro, a delegação da XXV Brigada Sul-Americana de Solidariedade a Cuba teve o prazer de visitar o IPVCE Silberto Álvarez Aroche, situado nas proximidades do município de Bayamo, na província de Granma.
 

Apesar de termos visitado locais de grande importância histórica, considero - pessoalmente - que este foi o clímax de nossa jornada pelo país, certamente pela minha condição de professora e grande defensora da educação libertária e do fomento ao conhecimento; por isso dedico atenção especial a este episódio de minha visita a Cuba.

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​Fiquei emocionada com a calorosa recepção dos estudantes secundaristas desta escola, a qual reúne mais de 600 alunos, que se auto-denominam "a elite* estudantil da província", não sem razão, uma vez que o ingresso no instituto exige a aprovação em um rigoroso exame de admissão e a permanência e conclusão do curso se dá pela manutenção de notas médias acima de 85 pontos. O índice de êxodo escolar nesta instituição - que gira em torno de 13% - se dá apenas por transferência ou emigração. Anualmente, praticamente 100% de seus graduandos são aprovados em universidades do país com altíssimas notas na prova de admissão, sendo - geralmente - em cursos da área de engenharia.

Estudantes secundaristas do IPVCE Silberto Álvares Aroche despedem-se da XXV

Brigada Sul-Americana de Solidariedade a Cuba

Em nossa visita, além de circularmos pela escola, fomos recebidos por sua direção no anfiteatro da instituição (no qual estava presente um grande número de estudantes), que nos apresentou os resultados de eficiência acadêmica do corpo discente e docente, com minuciosos dados estatísticos. Assistimos a uma apresentação cultural de uma aluna bailarina. Ouvimos breves pronunciamentos dos líderes político-acadêmicos da FEEM (Federação de Estudantes do Ensino Médio) e UJC (União da Juventude Comunista) da escola e tivemos também a oportunidade de apresentar breves cenários sobre nossos países de origem, momento que se tornou um rápido debate sobre a situação sócio-política da América do Sul, no qual membros da Brigada e estudantes intercalavam perguntas e respostas sobre ambas realidades. 

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Foi ao final deste breve debate que um jovem - que não passava de 17 anos de idade - disparou sua furiosa curiosidade revolucionária: "que pasa con ustedes que no cambian la situación de sus países?". Um silêncio se abateu sobre os 120 delegados da Brigada Sul-Americana. Brasileiros, chilenos, argentinos e uruguaia não tinham resposta para aquele genuíno e pertinente questionamento. Foi uma lição de consciência política dada por um adolescente cubano.
 

Murais informativos espalhados pelas paredes do IPVCE Silberto Álvares Aroche

Depois deste encontro no anfiteatro, toda a delegação da Brigada foi cercada por grupos de 3 ou 4 estudantes que tinham verdadeiro interesse em conversar conosco e saber nossa opinião sobre Cuba e como era nossa vida cotidiana em nossos países de origem. Eu - particularmente - me senti num oásis: cercada por adolescentes bem informados e formados, politizados e curiososos sobre o que se passa abaixo da linha do Equador. Eu queria ficar lá para sempre!

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Conforme informa o Ministério da Educação, a missão dos IPVCEs é formar jovens com profundas motivações para o estudo das ciências, a partir de uma sólida preparação político-ideológica e em áreas de conhecimento como matemática, física, química e biologia. São internatos com infraestrutura completa, onde os estudantes permanecem de 2a. a 6a. feira durante 3 anos. Neles se aplicam os princípios politécnicos e a combinação de estudo com trabalho agrícola, assim como o desenvolvimento de atividades esportivas e recreativas.

Cartazes de campanha de combate às drogas produzidos por alunos e fixados nos murais das paredes do IPVCE Silberto Álvares Aroche: chamaram-me a atenção pela força das mensagens apesar da simplicidade da apresentação gráfica

Em 2018, Cuba conta com 16 IPVCEs, um em cada província do país. Os mais antigos foram inaugurados em meados dos anos 1970 ainda como escolas secundárias técnicas, que tinham o propósito de ser a vanguarda da educação de nível médio no país. Mais tarde, em meados dos anos 1980, foram convertidos em IPVCEs, com foco na formação de futuros universitários das ciências exatas. Alguns IPVCEs são associados à UNESCO e também participam de programas de cooperação técnica com universidades cubanas.

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Recentemente, os IPVCEs protagonizaram forte polêmica em Cuba, ao suprimirem a disciplina Língua Espanhola do exame de ingresso nos institutos. Os gestores responsáveis pela decisão defendem a opinião de que a instituição prioriza as ciências exatas e que o uso correto da língua materna permeia necessariamente todas as outras disciplinas e assim estaria sendo avaliada. Mas a imprensa cubana não se furtou o dever de cobrar das mesmas autoridades da educação o cuidado e a atenção que a língua oficial do país merece.

No primeiro degrau da escadaria, o líder estudantil da FEEM no IPVCE Silberto Álvares Aroche acena, dando adeus à delegação da XXV Brigada Sul-Americana de Solidariedade a Cuba

P.S. obviamente a palavra elite é usada no sentido de serem os melhores estudantes do ensino médio em termos acadêmicos, não que pertençam a uma classe social distinta, afinal todos os estudantes de Cuba tem a mesma origem de educação básica: a escola pública. Assim, não há diferenças de oportunidades, os resultados acadêmicos se diferenciam apenas pelo interesse e esforço individual de cada jovem.

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